Pela primeira vez em muitos anos, houve expediente na maior parte das unidades do TRT da 2ª Região no último dia 20 de novembro (sexta-feira), usualmente feriado do Dia da Consciência Negra, antecipado neste ano por conta da pandemia. E, naquele dia, foi realizada a webpalestra Políticas de igualdade racial – atualizações necessárias, pelo canal da Escola Judicial no YouTube.
Com apresentação da magistrada aposentada Mylene Ramos Seidl, membro da Comissão de Diversidade e Igualdade do TRT-2 (organizadora do evento junto com a Ejud-2), a palestra trouxe o professor Hélio Santos. Ativista da causa racial e membro de diversos conselhos consultivos em entidades privadas e públicas, atuou no grupo de trabalho que formatou as ações afirmativas (políticas de cotas) na agenda nacional. Ele falou sobre elas e muito mais.
Anomalia
Hélio Santos iniciou destacando o vínculo absoluto que une as temáticas racial e do trabalho, e pontuou as três discriminações básicas que os negros enfrentam no mercado: 1 – ocupacional: acham que o negro não tem capacidade de ocupar aquele cargo; 2 – salarial: os negros ganham menos que outras pessoas em cargos equivalentes, e 3 – de imagem: as empresas relutam em associar suas imagens às imagens dos negros.
Para o professor (foto acima), o Brasil é “muito mais eficiente em punir do que em proporcionar oportunidades”. O tamanho das desigualdades dificulta, mas são algumas características que tornam o país uma espécie de anomalia: “Somos um dos dez países mais desiguais do mundo, segundo a ONU; mas estamos entre as dez maiores economias do mundo, com a particularidade de sermos o único país de maioria negra entre elas”.
Assim, para Hélio Santos, essas características revelam: “A desigualdade brasileira foi uma decisão política, e não algo fortuito. A pobreza tem cor, procedência e história”. E prosseguiu: “O Brasil escolheu não ajudar os mais de 4 milhões de negros recém-libertos (da escravidão). Isto criou o racismo estrutural que eu chamo de ‘racismo inercial sistêmico’: ele perpassa toda a estrutura econômica e social; se autopropulsiona e é sistêmico porque não tem apenas uma causa, e afeta as mais variadas instâncias”. E definiu: “O racismo é o combustível da nossa nação”.
O palestrante disse acreditar que “as políticas de igualdade racial são o antídoto para conter essa anomalia que faz o país ser o que é”. E foi categórico: “O acesso às universidades foi a única política brasileira que reduziu a desigualdade”.
Durante todo o evento, o público de mais de 140 pessoas interagiu na área de comentários, enviando suas impressões sobre o exposto e perguntas ao palestrante. Houve muitas sugestões de leituras de autoras e autores negros especialistas nas temáticas discutidas e até a ideia da montagem de um clube de leitura com esses livros, entre os membros do TRT.
A Biblioteca do Tribunal também informou de quais obras dispunha em seu acervo sobre o tema. E ainda sobre o Dia da Consciência Negra, naquela data, também foi publicado na plataforma LinkedIn do Tribunal uma reflexão de autoria do desembargador Rafael Edson Pugliese Ribeiro; clique para conferi-la.
Ante a aclamação e agradecimentos ao professor pela palestra, a juíza Mylene Seidl (foto acima) disse que o próximo convite a ele não deve tardar. A administração da Ejud lembrou que outras palestras de temas afins e com palestrantes de igual excelência estão programadas para o seminário Semana da Diversidade, cuja participação é aberta a todos os interessados. Clique aqui para saber as datas, horários, programação, os palestrantes convidados e outros detalhes; e inscreva-se.
Texto e imagens da tela: Alberto Nannini – Secom/TRT-2